terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Mar Salgado - MQ


"A oeste nada de novo", para além do mar; esse mar que me inunda detido no tempo; Sem mergulhos ou salpicos; nada para além do azul acinzentado e profundo; tudo para além de mim.
Enquanto sustenho a respiração viajo pela linha do horizonte e deixo-o entrar sem bater. De rompante e em torrente. Enxurrada de sentidos. Baixo as defesas e deixo-o fazer parte de tudo o que sou; Eu! Liberto-o em mim para todo o sempre;
Mar salgado que fazes parte de mim; Somos um só, agora e na hora da nossa morte...

Mar salgado by MQ

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Vício IV - MQ


Enquanto oiço a terceira sinfonia de Brahms e olho em frente para a folha de papel recordo-me que, hoje, ainda não me lembrei dela. Apetece-me escrever, criar e recriar, mas também me apetece dormir. Deitar-me de bruços no colchão poeirento do meu minúsculo quarto e deixo-me adormecer até depois de amanhã.
Chove lá fora.
Um estranho cansaço invade-me o baixo ventre. Uma sinistra letargia. Uma vontade de deixar o tempo trepar por cima do tempo. Sem a obrigação diária de o contar. Decido, então, graciosamente, ir preparar uma bebida. Jameson com Castelo e um chá preto forte para me aguçar as reminiscências e deixar fluir a escrita. Deixo-me estar. Recosto-me. Aprecio a música e a bebida encorpada. Deixo a ocasião morrer lentamente, como um duche de água quente. Levo um cigarro à boca. Acendo-o com um fósforo que, ainda quente, bate silenciosamente no cinzeiro que o meu avô paterno me ofereceu. Relíquia roubada de um casino. Mais uma das suas loucas e boémias noites.
Agora sinto o corpo a ficar ainda mais mole e apático. O motor arrefeceu e não vou conseguir cuspir uma palavra. Levanto-me e vou até à janela. Olho a rua por raros instantes. O trânsito de final de dia vai acumulando fiéis. Dirigem-se, em fila indiana, para o dia do julgamento final.
Recordo-me dos seus maravilhosos e sofisticados sapatos de verniz. Aqueles que levava quando saíamos para dançar. Para o ballet. Uma vez. Só uma vez, fizemos amor com eles calçados. Nem tirámos a roupa.
O copo está vazio e o chá arrefeceu. Diferente. Estou estupidamente tranquilo e erradamente calmo. Preciso de outro copo a transbordar memórias. Desta vez encho o copo até cima. Ignoro a fronteira.
Agora é a quinta sinfonia de Brahms que se faz soar. Mais doce. Menos distante. Um sorriso parece querer acordar no meu rosto barbudo. Mais um resultado mágico da fusão entre prazeres e recordações.
Ainda chove lá fora.
De repente, um poema surge-me no horizonte. Uma série de palavras cruzadas e enamoradas em verso. Sem significado, mas com alma. Metafísico. Uma intensidade eléctrica percorre-me o corpo, de fio a pavio. Começo a escrever sem pensar. Deixo-me ir. Deixo fluir. Deixo-me desabafar com o papel e esqueço-me da ampulheta. Movimento frenético. O cigarro apaga-se preso entre os lábios. Tudo são cinzas. Fecho os olhos. Afago cabelo. Respiro fundo. Cuspo o cigarro. Abro os olhos. Numa fúria rasgo a folha. Rasgo-a em pequenos pedaços. Minuciosamente. Até ver o fruto da minha criação perder-se para lá do infinito. Paro e bebo o resto do copo num só trago. Numa só voz. A música parou. Fico em silêncio.
Deixou de chover lá fora.


Vício IV by MQ

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Olisippo - MQ


Deixa-me percorrer estas ruas despidas de pureza
Senti-las na planta gasta dos meus pés
Palmilhar esta estranha Babilónia
Como um estrangeiro acabado de chegar

Deixa-me viajar nu nas vielas da minha cidade
Lisboa....velha meretriz dos meus verdes anos
Jovem varina sem canastra....
Pobre bailarina amachucada
Frágil e precoce criança

Deixa-me parar e beber...
pelas ruelas de Alfama ao Bairro Alto
Assaltar o fado que sem fado me assombra
Ouvi-lo embriagado em saudade
Abraçar a madrugada...

Deixa-me mergulhar no Tejo...
afogar-me nas suas lágrimas
Nadar junto aos cacilheiros
Ouvir o roncar dos seus lamentos
Como almas gémeas...

Deixa-me adormecer na sua luz
Celebrar a sua memória...sem memória
Voltar a casa...sem-abrigo
Sabendo que em casa me sinto
Sabendo que aqui eu pertenço

Olisippo by MQ

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Pedaço de ti - MQ


Que belo pedaço de poesia escreves
quando me olhas assim
Morta de desejo…
Viajando a língua pelos lábios…
com inebriada luxuria

Que belo pedaço de poesia escreves
semicerrando as pálpebras….
Sussurrando sujeitos e predicados
Convite estonteante….
de fazer parte de ti

Que belo pedaço de poesia escreves
quando me enches de luz o quarto….
em noite escura
Tirando-me o tapete debaixo dos pés….
deixando-me ao Deus dará…

Que belo pedaço de pecado me saíste
drogas-me os sentidos
Apagas-me a consciência
Entras e sais quando te apetece…
só por brincadeira


Pedaço de ti by MQ

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Querido Líder - MQ



Não há dias diferentes
Todas as horas são iguais
A rotina dos descrentes
As realidades banais

Palavras atrás de palavras sem sentido
O hábito que destrói o querer
Assola as quimeras de menino
A estupidificação do ser

Perco toda a dignidade
Neste cubículo escondido
Deixei de sentir vontade
Dou-me por eterno vencido

Vou falando em desassossego
Engolindo-o sem vaidade
Vou inventando um emprego
Sonhando com a liberdade

Vou uivando aos céus
Promessas de divindade
Procurando em Deus
O caminho da verdade

Solte-se o açaime do medo
Abra-se a porta encerrada
Faça-se luz neste degredo
Liberte-se a alma penada

Corroí-me por dentro
Este calvário demente
Sinto que perco o meu tempo
Nesta guerra sem frente

Nos olhos da impostura
Sorrisos desenvergonhados
Governa de forma dura
Os bem-aventurados

Chamem a cavalaria
Que a coisa vai azedar
Exaltada hipocrisia
Quando ele está a passar

No cruzeiro deste tormento
Vou alimentando a crença
Que um dia num momento
Vou curar esta doença

Avé César, Avé
Gritamos de braço estendido
Não inspiras qualquer fé
Não passas de um bandido

Ó líder poderoso
Chefe do nada vazio
Não passas de um porco vaidoso
Vai para a puta que te pariu


Querido Líder by MQ

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Lágrima - MQ


Uma lágrima percorre-te o rosto
Palmilhando campo aberto,
De fio a pavio
Paulatina, passo a passo

Sai em marcha nupcial
A caminho do altar
Ave Maria de Schubert,
Afogada em santa culpa

Procissão de água benta
Nossa senhora dos prantos
Vem desaguar no teu rego
Absolvida de pecado

A galope compassado
Viaja perdida,
Desmaiada,
Como a chuva quente deste verão...


Lágrima by MQ

domingo, 14 de setembro de 2014

Traffic signals - Charles Bukowski


they disgust me
the way they wait for death
with as much passion
as a traffic signal.

these are the people who believe advertisements
these are the people who buy dentures on credit
these are the people who celebrate holidays
these are the people who have grandchildren
these are the people who vote
these are the people who have funerals

these are the dead
the smog
the stink in the air
the lepers.

these are almost everybody
finally."

Traffic signals by Charles Bukowski

Ausência - MQ


Manhã submersa em madrugada
Pedra fria sem sentidos
Nós os dois de mão dada
Obviamente demitidos

A tua história não condeno
Escurece o céu de fim de tarde
Provo do teu doce veneno
Recheado de meias verdades

Não tem lógica este destino
Amortalhado em falsas esperanças
Não merece o tempo perdido
Não sacia as nossas crianças

Não tem sentido esta lei cega
Não quer saber da alquimia
Esquece-se dos sonhos perdidos
Esconde-se na noite fria

Sentas-te à lareira,

Contas-me um segredo
Aconchegas-te em mim
Revelas-te em forma de medo
Sinto-te perto do fim


Ausência By MQ

Tempo - MQ


Vivemos presos ao tempo,
O tempo é a prisão dos tempos
Sem ele não vivemos
Com ele sobrevivemos
 
Não falo sobre o relógio
Das horas, dos minutos, das estações
Falo da inquietação ansiosa
Falo do desassossego
 
Falo da súbita vontade de gritar
De espernear por desejar
Por querer fugir e ser livre
Livre das amarras do Momento
 
Falo das masmorras da alma
Dos limites onde nos encerramos
Aprisionados nos dias
Em quadras enxadrezados
 
Ontem fui servo do tempo em Cristo
Antes fui cidadão da Babilónia
Hoje sou sonhador e poeta
Amanhã serei o pó de uma ampulheta
 
 
Tempo by MQ

sábado, 15 de março de 2014

Tocaram os sinos - MQ



Por vezes penso que a presença da troika em Portugal pode ser comparada à Peste do Camus. Vou a sair de casa e tropeço num rato morto. Qual Dr. Bernard Rieux encharcado em muscarina.
Vá tem calma. Tranquilidade! Tranquilidade que somos um país de poetas. Poetas e fadistas. "Cantar o Fado? Nunca! o Fado é o veneno da raça!" "Um por todos e todos contra o Fado". Que venha a epidemia que cá estaremos para curar as "chagas de carácter social"...
Algo está para acontecer ao meu país. Algo de grandioso. Esquece a "Mensagem" que essa perdeu-se no caminho marítimo para a India...
É difícil encontrar a saída do poço onde este menino com mais de 800 anos caiu...De Zamora a Roma...a Lisboa (deixa-me rir). Do Minho até Timor...
Vou troteando "A Portuguesa" enquanto me debruço sobre a possibilidade de ir dormir a sesta...
 
Acabou o arraial...
 
 
Tocaram os sinos by MQ

quarta-feira, 5 de março de 2014

Vicio III - MQ


Passava as noites naquele antro de insetos de frustração embriagada. A catedral do vício, o pináculo da má vida ou o poço do elevador da existência. Servia-me de um, dois, dez copos de whiskey barato a preço de ouro e dialogava com putas, numa linguagem pobre e apodrecida. Ali sou condenado à morte lenta e desafio a verdade com pinceladas de veneno.
Depois ia para casa dormir. Dormir e escrever. Escrever este conto.
Escrever, compor e redigir o melhor de todos os contos alguma vez escrito. Cru e abrutalhado. Frio.
Escrevo até me doerem as mãos, as costas, o peito e o ser. Até me doerem os pés de tanto palmilhar ruínas.
Escrevo uma obra-prima que vai diretamente para o topo dos contos mais lidos e decorados de sempre. Diretamente para o caixote do lixo. Diretamente para o além. Onde nunca chegou a ser.
Quero voltar para cama e dormir até às três da tarde, quatro da tarde, cinco da tarde. Jantar de micro-ondas à luz das velas. Seia dos pobres de espirito. Jantarada acompanhada a bagaço rançoso. Manhoso bagaço caseiro.
O vício resiste em mim. Devora-me o amago. Viola-me as entranhas. Sodomiza o livre arbítrio.



Vicio III by MQ




Vicio II - MQ


Apetece-me caminhar desvairado pelas ruas desta aldeia urbana, testemunha do abandono constante e da miséria da carne. Apetece-me palmilhar as sete partidas, ou mesmo as sete colinas. Apetece-me fugir pelas vielas ensopadas da chuva de Novembro e andar, andar, andar, voar. Ao encontro de estranhos solitários, marinheiros, estrelas de teatro de revista, jovens meretrizes, jogadores de xadrez profissionais, peões e cavaleiros.
Começo por descer a rua bem devagar, sem plano delineado, sem esperanças, uma vontade de rir e de chorar. Uma vontade de caminhar até mais não conseguir andar. Sapatos caros e desfeitos de tanto andar. Pequeno-almoço junto ao rio, ovos cozidos e cerveja económica. Solidão de barriga cheia.
Descanso e penso mais um pouco. Descanso ainda mais e observo os poucos transeuntes. Podemos definir camadas sociais pelos horários laborais. Só com base nos horários. Às seis da matina vejo pobres, mas às dez da manhã vejo ricos.
Levanto-me quando começo a sentir frio e vou comprar o jornal a um desses quiosques perdidos. Acordo finalmente para a realidade produzida e brilhantemente realizada das notícias cruas do mundo. Dá-me vontade de rir. Apetece-me vomitar….Começo a tossir de forma convulsiva. Tenho que sair deste lugar. Levanto-me de um só trago, de uma só conquista. Vou ganhando espaço e confiança.
Penso nas experiências vividas naquelas catedrais de vício e despeço-me delas com dor no espírito. Fico com vontade de mergulhar em água benta.
Bolso de forma violenta contra a parede e espirro consecutivamente. Estou a chegar ao limite das forças e acabou-se o pó. Não tenho tabaco e cheiro a vómito. Tenho saudades de casa e do que é comum. Preciso de dormir. Preciso de descansar e sonhar com mulheres nuas.
Ando lentamente para a praça de táxis junto ao velho cinema e suspiro a morada para o motorista. Este é dos silenciosos. Fecho os olhos e fico ali, na vigília, ignorante, inocente e ausente. Parado no tempo e nos espaços. Vou sendo interrompido pela rádio táxis e a voz metálica da operadora. Chego à porta de casa, pago educadamente e dou gorjeta. Não me quero afundar em moedas. O dinheiro diz-me pouco, mas não consigo viver sem ele. O elevador está avariado. Nove andares de ressaca até à terra prometida. Os lençóis sujos da minha cama de solteiro.
Sento-me nas escadas frias. Esqueço as figuras de estilo e adormeço sem luar.
 
 
Vicio II by MQ

Vicio - MQ



Vais sempre de táxi, sempre a pagar e a conversar com estranhos sobre existências que nunca foste capaz de existir. Numa desordem inimaginável relaxas e inventas uma narrativa, preenchida com personagens mirabolantes, filhas dignas de um conto de fadas.
Chegas ao destino e nunca pedes para ficar à porta. Vergonha do que possam pensar os motoristas de táxi, depois de teres construído uma teia de ilusão de mentiras complexas e macias. Passas num salto pelo multibanco para teres alguns trocos chorudos na algibeira do velho casaco coçado. Subornas o porteiro com uma nota de dez ou de vinte, num aperto de mão secreto, iluminado pelo detetor de metais e desces, desces, desces e desces até às profundezas dantescas de um salão de baile contemporâneo.
A música lenta e claustrofóbica inunda o vazio, espaço espacial partilhado por damas e cavalheiros e, numa escuridão sublime, encontras decotes e pernas a dar com um pau. Encaminhas-te lentamente para o bar e bebes de costas viradas para a multidão, envergonhado e chocado com a luxúria batida, promiscua e insinuante. Tudo parece de cristal e, de repente, tudo estala com uma violência memorável.
Aos poucos e poucos deixas-te ir, respirando fundo e abrindo mais um botão da camisa. Ris-te alcoolizado e escapas-te, paulatinamente, como uma sombra, para casa de banho dos homens, onde a luz branca e enjoativa te abraça como se de um amigo se tratasse. Olhas-te ao espelho e não te reconheces para além dos olhos castanhos, raiados de sangue e de sabedoria mordaz. Tomas o teu tempo e enches um copo de água que rapidamente bebes sequioso. Não te sentes confortável na tua pele e ali, à luz da realidade crua, tudo parece ainda pior. Sentes-te desenraizado e expatriado como um estrangeiro num livro de Remarque, ou mesmo como o próprio Estrangeiro de Camus. Tudo aquilo te parece absurdo. Pedes socorro a ti mesmo, sem mar, sem pé.
 
Vicio by MQ

Travessia no deserto - MQ


Trago um Ulisses na alma
Complico o complicado
Desarranjo a desarranjada calma
Sou um Bloom desenraizado

À procura da afamada utopia
Sal e Moriarty num só
Pela estrada fora partia
Se quiseres pergunta ao pó

A um Deus desconhecido rezei
Vale de Nossa Senhora
Assentei estacas e esperei
Joseph Wayne foi-se embora

Oiço os sinos a chorar
Acordo de madrugada
Por quem os sinos dobram
Robert Jordan cai da montada


Travessia no deserto by MQ

Rio Memória - MQ


Tens o Tejo no olhos
Reflexo de vidas passadas
Rumo das descobertas
De mundos por conquistar

As tuas curvas são o Guadiana
Percorrem a fronteira do ser
Sem vontade de desaguar
Desejo de renascer

Os teus lábios são o Douro
Paralelos com os meus no caminho
O Sabor como afluente
Contentamento descontente

O teu peito é o Minho
Entre a nascente e a foz
A Ilha dos Amores

Vives nas margens do Mondego
Um destino infinito
Um caminho sem fim


Rio Memória by MQ


Doença - MQ



Momentos como pontes

A outra margem

Do passado para o futuro
Sem passar pelo presente

Passadeiras aérias
Areias movediças

Plantas trepadeiras
Ponto e virgula

Restos de civilização
No meio da confusão

Princípios e fins
Pendurados entre jardins

Verde sem esperança
Olhos de criança

Campos cheios de nada


Doença by MQ

Noites - MQ


Em direção ao vazio
O único caminho que estes homens conhecem
Viver com medo de morrer
Morrer com medo de viver
O ir e vir das rotinas
Os amores e desamores
As madrugadas e os amanheceres
A procura da igualdade
A limitação de ser humano
A Moral sem moral alguma
As verdades mentirosas
A ida para o trabalho
O regresso a casa
O cansaço do corpo
A procura de companhia
A carne
Uma bebida fria
Uma rodela de limão
Um café quente
O amargo de boca
Os cigarros que ardem
As histórias de outras vidas
Os pés gelados por baixo dos cobertores
O sono que não vem
Os homens do lixo
O ruído
O ruído
As vozes alheias
Os cães a ladrar
A uivar
A ganir
As portas a fechar
Uma cadeira a arrastar
Os passos pesados
Os passos inquietos
A mesma história de sempre...
Caos
Os olhos húmidos
As pestanas a cerrar
Silêncio e paz
Um bocejo de nada
A mesma história de sempre...
Morfeu


Noites by MQ

Enquanto dormias - MQ


Enquanto dormias
Abrias a asas
Voavas para longe
Para lá do eterno
Para além do além

No teu leito, alquimia
Quedas de água doce
Céus azuis
Estrelas cadentes
Nobres açucenas

Entre as tuas pernas
Laranjeiras em flor
Borboletas de seda
Uma chama que chama
Um perpétuo jardim

No teu abraço
Flor de cerejeira
O presente presente
Viver sem fronteiras
Um principio sem fim


Enquanto dormias by MQ

Sábado - MQ


Sábado,
Manhã,
Inicio de tarde,
Mozart e nicotina
Alquimia e cafeina
Literatura e partituras
Ideias obscuras
Preguiça almofadada
O doce fazer nada
Começa o fim de semana
Pequeno almoço na cama


Sábado by MQ

Providência - MQ


Fazes-me tremer por dentro
Perco-me em ti no tempo
O teu olhar de criança
O teu passo de dança
A tua boca é seda
Os teus lábios são sede
Nos teus olhos quero morar
Fazer deles o meu lar
Esse sinal é um verso
Um planeta no universo
Essa elegância eloquente
Faz-me esquecer o presente
Ainda sinto a tua crina
O teu toque fascina
Os teus dedos dos pés
Os teus ávidos porquês
O teu peito é proteção
Bem junto ao medalhão
O significado da Lua
Descobri quando te vi nua
Fazes-me tremer por dentro
Perco-me em ti no tempo
O teu corpo inocente
Faz de mim um crente


Providência by MQ


Fim - MQ


No espelho as razões que não sei explicar

Uma vida ansiosa por viver
Pressa presa pelo medo de morrer
De forma dramática padecer
A uma vida errática sobreviver

A ansiedade, essa madrasta
Deliciosa e filosófica varrasca
Deixa-me da mão ó susto perfumado
Deixai-me viver embriagado

Uma dor no peito, doce azia
Abrir os olhos para respirar outro dia
Um compasso de espera infinita
O desejo de uma morte tão bonita

Um pensamento profundo varre-me o universo
Uma dura memória em forma de verso
Uma estória de encantar mal contada
Uma porta entreaberta, escancarada

Um poema que me desarranja as entranhas


Fim by MQ