Passava as noites naquele antro de insetos de frustração embriagada. A catedral do vício, o pináculo da má vida ou o poço do elevador da existência. Servia-me de um, dois, dez copos de whiskey barato a preço de ouro e dialogava com putas, numa linguagem pobre e apodrecida. Ali sou condenado à morte lenta e desafio a verdade com pinceladas de veneno.
Depois ia para casa dormir. Dormir e escrever. Escrever este conto.
Escrever, compor e redigir o melhor de todos os contos alguma vez escrito. Cru e abrutalhado. Frio.
Escrevo até me doerem as mãos, as costas, o peito e o ser. Até me doerem os pés de tanto palmilhar ruínas.
Escrevo uma obra-prima que vai diretamente para o topo dos contos mais lidos e decorados de sempre. Diretamente para o caixote do lixo. Diretamente para o além. Onde nunca chegou a ser.
Quero voltar para cama e dormir até às três da tarde, quatro da tarde, cinco da tarde. Jantar de micro-ondas à luz das velas. Seia dos pobres de espirito. Jantarada acompanhada a bagaço rançoso. Manhoso bagaço caseiro.
O vício resiste em mim. Devora-me o amago. Viola-me as entranhas. Sodomiza o livre arbítrio.
Vicio III by MQ
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