sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Olisippo - MQ


Deixa-me percorrer estas ruas despidas de pureza
Senti-las na planta gasta dos meus pés
Palmilhar esta estranha Babilónia
Como um estrangeiro acabado de chegar

Deixa-me viajar nu nas vielas da minha cidade
Lisboa....velha meretriz dos meus verdes anos
Jovem varina sem canastra....
Pobre bailarina amachucada
Frágil e precoce criança

Deixa-me parar e beber...
pelas ruelas de Alfama ao Bairro Alto
Assaltar o fado que sem fado me assombra
Ouvi-lo embriagado em saudade
Abraçar a madrugada...

Deixa-me mergulhar no Tejo...
afogar-me nas suas lágrimas
Nadar junto aos cacilheiros
Ouvir o roncar dos seus lamentos
Como almas gémeas...

Deixa-me adormecer na sua luz
Celebrar a sua memória...sem memória
Voltar a casa...sem-abrigo
Sabendo que em casa me sinto
Sabendo que aqui eu pertenço

Olisippo by MQ

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Pedaço de ti - MQ


Que belo pedaço de poesia escreves
quando me olhas assim
Morta de desejo…
Viajando a língua pelos lábios…
com inebriada luxuria

Que belo pedaço de poesia escreves
semicerrando as pálpebras….
Sussurrando sujeitos e predicados
Convite estonteante….
de fazer parte de ti

Que belo pedaço de poesia escreves
quando me enches de luz o quarto….
em noite escura
Tirando-me o tapete debaixo dos pés….
deixando-me ao Deus dará…

Que belo pedaço de pecado me saíste
drogas-me os sentidos
Apagas-me a consciência
Entras e sais quando te apetece…
só por brincadeira


Pedaço de ti by MQ

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Querido Líder - MQ



Não há dias diferentes
Todas as horas são iguais
A rotina dos descrentes
As realidades banais

Palavras atrás de palavras sem sentido
O hábito que destrói o querer
Assola as quimeras de menino
A estupidificação do ser

Perco toda a dignidade
Neste cubículo escondido
Deixei de sentir vontade
Dou-me por eterno vencido

Vou falando em desassossego
Engolindo-o sem vaidade
Vou inventando um emprego
Sonhando com a liberdade

Vou uivando aos céus
Promessas de divindade
Procurando em Deus
O caminho da verdade

Solte-se o açaime do medo
Abra-se a porta encerrada
Faça-se luz neste degredo
Liberte-se a alma penada

Corroí-me por dentro
Este calvário demente
Sinto que perco o meu tempo
Nesta guerra sem frente

Nos olhos da impostura
Sorrisos desenvergonhados
Governa de forma dura
Os bem-aventurados

Chamem a cavalaria
Que a coisa vai azedar
Exaltada hipocrisia
Quando ele está a passar

No cruzeiro deste tormento
Vou alimentando a crença
Que um dia num momento
Vou curar esta doença

Avé César, Avé
Gritamos de braço estendido
Não inspiras qualquer fé
Não passas de um bandido

Ó líder poderoso
Chefe do nada vazio
Não passas de um porco vaidoso
Vai para a puta que te pariu


Querido Líder by MQ