terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ruby Sparks


Hoje vi um excelente filme. Não sei muito bem como o etiquetar porque me fez essencialmente sorrir. Não é necessariamente uma comédia mas, ao terminar, não pude deixar de sorrir incessantemente.

Um jovem escritor, Calvin Weir-Fields, com apenas um famoso e genial romance publicado, enfrenta um bloqueio de escrita. Não sabe o  escrever, nem como escrever. A sua vida é uma confusão solitária e todas as noites sonha com uma mulher misteriosa que debita o seu nome.

Certa noite, uma súbita e electrizante inspiração percorre-lhe as veias desaguando na foz de uma incrivel criação, Ruby Sparks. A mulher que aparece nos sonhos e sobre quem escreve é real. Real como a vida. De carne e osso.

A partir deste momento, a vida de Calvin jamais será a mesma, num mundo, onde realidade e ficção se misturam.

Este filme não nos deixa indiferentes pela sua originalidade. Ruby Sparks é um bom pedaço de cinema. É de aproveitar, numa altura em que os filmes de elevada categoria há muito nos deixaram de abraçar.

Nota: 4

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Trilogia Suja de Havana - Pedro Juan Gutiérrez‏



Este autor e esta obra continuam um estilo de escrita semi-pornográfico, escatológico, sexista e chauvinista já apresentado à literatura pelos génios Charles Bukowski e John Fante.

Por muitos considerada literatura menor, mas por mim admirada e recomendada, este estilo põe a nu os desejos, os caprichos e as experiências mais sujas e depravadas da natureza humana.

Pedro Juan Gutiérrez tem o dom de o fazer com ainda mais afinco que os seus antecessores e, desenterrando a podridão, conta o quotidiano miserável de Havana dos anos noventa em pequenos contos interligados.

Ao lê-lo podem ter a certeza que ficam a conhecer muito melhor a realidade social cubana. Muito mais do que uma viagem a Cuba com tudo incluído. Aqui, a viagem é curta mas profunda, suja e decadente. 

Alguns leitores podem ficar chocados com o descrito nesta obra fenomenal, mas o choque é antónimo da indiferença (inimiga da Arte).

Esta é, sem dúvida alguma, a grande arma de Gutiérrez e funciona com regra máxima na sua obra. O seu melhor livro e um marco na literatura latino-americana.

Nota: 5

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O Bom Inverno - João Tordo


O Bom Inverno conta-nos a história de um jovem coxo e talentoso escritor que, após uma curta viagem a Budapeste, para um encontro entre escritores, conhece e trava amizade com um jovem italiano, Vincenzo Gentile, que o convida a passar uma temporada numa casa do lago em Sabaudia, Itália.

É a partir desta viagem que a nossa personagem (também narrador), completamente isolado do seu e do nosso mundo, vai conhecer personagens misteriosas e pouco ortodoxas, retiradas de um Filme de David Lynch.

Só para citar alguns: um excêntrico produtor de cinema, Don Metzger, com um estranho gosto por balões de ar quente; Andrés Bosco, um catalão, encorpado e sinistro, que constrói ele próprio os balões de Mezger; Elsa Gorski, uma atriz famosa, tipo femme fatale, sensual e perigosa. Muitas, mas muitas mais personagens que tornam a teia complexa e distinta.

Tudo começa com a morte do anfitrião, Metzger e, a partir daí, um clima de suspeição e um nevoeiro de dúvida caem sobre a casa do lago e estragam a festa.. Quem é o assassino? A história vai-se revelando em direcção à verdade.

Um grande romance, de um jovem escritor português, com cartas dadas e um lugar de destaque no panorama literário português.

Nota: 4

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Safety Not Guaranteed



Há filmes que nos ficam na retina e na memória por motivos que não conseguimos explicar. Por nos apelarem à razão, por nos aquecerem o coração ou simplesmente porque os vimos numa altura estranha das nossas vidas e neles mergulhamos os nossos sentidos.

Imaginem que liam num anúncio de jornal de classificados alguém à procura de um companheiro para viajar no tempo. Não, não é brincadeira. Viajar no tempo. Sem garantia de segurança.

Esta é a história de um grupo de três jornalistas que sai de Seattle para escrever uma história sobre a pessoa que escreveu o anúncio. Será real? Serão devaneios de um louco? Viajar no tempo será metafórico. Uma jornada pela vida, uma viagem pela mudança, pela verdade, mas em direcção ao futuro.

"Safety Not Guaranteed" passou pelo festival de cinema de Sundance de 2012 e, aclamado pela crítica, venceu o Waldo Salt Screenwriting Award.

Nota: 4

terça-feira, 23 de outubro de 2012

As Cinquenta Sombras de Grey - E L James



Comprei as As Cinquenta Sombras de Grey numa manhã quente de verão enquanto acabava dois livros que andava a ler há demasiado tempo. Pensei, talvez seja bom para sair da rotina. Entretanto, foram passando dias e dias, livros novos pelo meio e o romance de E. L. James (primeiro da trilogia) transformou-se num fenómeno mundial. Lá decidi, super entusiasmado, começar a ler esta suposta maravilha.

Acreditam que li perto de 100 páginas num esforço brutal para a chegar à parte "picante" e não aguentei mais? Que sacrificio. Tão mal escrito. Tão fútil. Tão imaginação de uma quarentona frustrada sem talento. Enfim. Parei e tive vai não vai para lhe fazer o mesmo que quis fazer com o "Crepúsculo". Deitá-lo fora. Nem a parte da "mommy porn" me despertou curiosidade. 

O sucesso? Chega a toda a gente pela simplicidade e fala de sexo (semi-hardcore). Nem percam tempo.

Nota: 1

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Seeking a Friend for the End of the World



Imaginem que o mundo vai acabar dentro de três semanas e que podem escolher tudo o querem fazer e que nunca tiveram possibilidade ou coragem de dar o passo em frente. Agora não existem consequências. Alguns escolhem os prazeres do alcool, do fumo, do sexo, fazer uma viagem, motins, uma loucura; outros simplesmente querem estar com a sua familia e aproveitar os últimos dias de vida.

Com este cenário apocalíptico e a dias do asteroide "Matilda" chocar com a Terra, Dodge (Steve Carell) fica sozinho e não sabe o que fazer com a vida apática que levava até então. É nesse momento, numa daquelas carambolescas coincidências do destino, que conhece a sua vizinha Penny (Keira Knightley). A partir deste momento vão-se tornar inseparáveis e partem numa viagem de aventura rumo aos sonhos, ao passado, à redenção e ao amor...em direcção ao fim inevitável (ou ao principio de tudo).

Participações especiais de Martin Sheen e William Petersen. "Seeking a Friend for the End of the World" é um filme diferente. Uma comédia diferente. Não esperem! Vejam!

Nota: 4

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Ham on Rye - Charles Bukowski



Há alturas das nossas vidas em que, ao olharmos para trás no nosso caminho, as memórias da infância e adolescência parecem ser longínquas, como miragens no deserto.

Este "Ham on Rye" serve para Charles Bukowski como expiação para memórias dolorosas dos seus jovens anos.

De uma crueza e dureza impressionantes, Bukowski traz-nos de volta a sua personagem mais famosa, o autobiográfico e errático Henry Chinaski. Neste romance explora as aventuras e desventuras de um jovem solitário, desenraizado, marcado pelo acne e pelos espancamentos brutais do seu pai, a crescer na cidade de Los Angeles dos anos 40 e 50.

Considerado por muitos o melhor livro de Charles Bukowski, "Ham on Rye", é basicamente o resumo do inicio da vida do autor em memórias. Cozido por uma simplicidade cortante e fascinante, este livro, deixa-nos marcas profundas na melhor compreensão do comportamento humano.

Nota: 5

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Assédio - Arturo Pérez-Reverte‏



Para os fãs de Arturo Pérez-Reverte este era um aguardado regresso. Um livro colossal em tamanho, em conteúdo, em personagens, em intrigas e, como não podia deixar de ser, em mistério.

Como se de uma partida de xadrez se tratasse, Cádis 1811, várias mulheres aparecem mortas e nesses mesmos locais cai uma bomba, acontecimentos enigmáticos que vão marcando um mapa pela cidade. Um mapa lógico orquestrado por um assassino misterioso. Todas as personagens são suspeitas, ninguém sai incólome, ninguém é dono do seu próprio destino.

Pérez-Reverte dá-nos as coordenadas para um romance único, com todos os condimentos por ele utilizados noutros romances. Todos condensados num só livro. Talvez a sua obra prima. Apresento-vos Assédio.
Brilhante.

Nota: 4

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

The Avengers


Eu, que não sou decididamente fã de livros aos quadradinhos, vi-me meio adoentado, num sábado à tarde, a experimentar um filme com personagens da Marvel e dos livros de banda desenhada, "The Avengers". Quem diria? E não é que gostei? Gostei da energia, dos efeitos especiais, da força e personalidade das personagens, sejam elas o Capitão América (o meu preferido - talvez por ser o mais antigo), o Iron Man (bilhante Robert Downey Jr.), o Thor, o Hulk ou a sexy Black Widow (Scarlett Johansson). Gostei dos diálogos curtos e cortantes, das cenas de acção, das paisagens exuberantes.

Fiquei a observar este filme de duas horas como se fosse um miúdo de doze anos, como se conhecesse todas aquelas histórias aos quadradinhos desde sempre. Guerras entre mundos, outras galáxias, super-poderes, eu sei lá...Fascinante.

Nota: 4

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Clube de Patifes - Dan Simmons



Ainda durante a Segunda Guerra Mundial, Ernest Hemingway monta em Cuba, na Finca Vigia (a sua casa), juntamente com o agente do FBI Joe Lucas, um pequeno grupo amador de espionagem, patrulhando e observando as operações americanas e alemãs naquela pequena ilha das Caraibas.

Este "Clube de Patifes" de Dan Simmons foca os últimos dias da vigorosa existência do escritor, tratando-o como personagem principal de um romance de espionagem.

A pesca, as armas, os charutos, o alcool e o feitio especial de Hemingway são brilhantemente retratados nesta fantástica obra de ficção.

Um livro fácil de ler que nos leva a conhecer pormenores da biografia do melhor e mais completo escritor americano do século XX. Perfeito para os fãs de Simmons e do estilo de literatura de espionagem à le John Le Carré, essencial para os fãs de Hemingway. 

Quando comprei este livro torci o nariz de desconfiado mas, um fim-de-semana depois já estava triste por se ter acabado a aventura.

Nota: 4

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

The Cabin in the Woods‏


The Cabin in the Woods é um fenómeno do cinema de terror. Isto acontece por ser um filme de uma originalidade impossível de etiquetar. Sim, temos os Zombies, uma casa isolada no bosque, os cinco adolescentes ingénuos prontos a morrer torturados das mais variadas formas.

Mas, e se tudo isto fosse orquestrado, arquitetado por homens de bata branca, filmado por mil e uma câmeras como se fosse um programa de reality tv?

E se estes jovens estivessem a fazer parte de um jogo, um ritual, um sacrifício para um bem maior. Será que isto continuaria a ser um filme clássico de terror ou algo muito mais requintado?

Não Amei, mas vou ser sincero, divertiu-me a ideia e o conceito.

Escrito e realizado por Drew Goddard, mestre de Cloverfield, pode ser visto por qualquer um, mesmo aqueles com estômago fraco.

Nota: 3

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Transit



Quando pensava que a carreira cinematográfica de Jim Caviezel não podia piorar, cometi o erro de perder uma hora e meia a ver "Transit".

Uma familia em vias de extinção parte em viagem pelo sul dos Estados Unidos para acampar e passar bons momentos de união familiar. Ao mesmo tempo, um grupo de ladrões de bancos psicopatas vão aterrorizando a viagem da familia, explodindo numa espiral de violência.

Este filme perde o sentido desde inicio, quando o "sem expressão" Jim Caviezel vai cantando canções e jogos de viagem, ao mesmo tempo que conduz o seu jipe num registo de pai responsável (como é que é possível depois da interpretação genial em a "Paixão de Cristo"?). 

Nem para os amantes de filmes de acção pura este filme serve. Muito francamente, nem vale a pena perderem tempo com ele.

Nota: 1

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Adeus ás Armas - Ernest Hemingway‏


O "Adeus ás Armas" ou " A farewell to Arms" é, sem dúvida alguma (na minha pequena e boémia opinião), o melhor romance da literatura contemporânea.

Filho da pena do génio literário Ernest Hemingway e neto da "Lost Generation", este romance épico, de uma realidade bruta e de frieza crua, dá-nos a conhecer a história de um soldado americano, Frederic Henry, ferido por um morteiro durante a primeira grande guerra mundial. Enviado para convalescência em Milão, conhece a enfermeira Catherine Barkley, por quem se apaixona loucamente.

Por má fortuna, Henry, tem de regressar à frente de combate e acaba por desertar por não suportar a saudade do amor que cresce, dia após dia, por Catherine.

Frederic Henry anda fugido e é condenado à morte por traição até que, após um tempo de estrada, volta para os braços da sua amada, procurando exílio na neutra Suiça.

Este romance marcou-me profundamente. O estilo duro de Hemingway, em parte biográfico, explode-nos na cara como se de uma bomba de emoções se tratasse. De uma beleza cega, capaz de nos fazer apaixonar pela vida e pelo prazer do Amor. Uma obra ímpar do meu escritor preferido. Os romances de Hemingway são poemas aos Deuses. O meu livro preferido.

Há um mês atrás saiu no Expresso um anexo acerca dos 50 livros que temos que ler "obrigatoriamente". Para meu espanto, "O Adeus ás Armas" não constava (nem qualquer romance deste Senhor). Alguém anda a dormir na parada! E não sou eu!

É extremamente dificil para mim dar uma nota a uma obra-prima desta qualidade. Não o sei fazer (quem sou eu?) e nem sequer me atrevo a tentar.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Livreiro de Cabul - Asne Seierstad‏



No contexto da guerra no Afeganistão, Asne Seierstad, jornalista e correspondente de guerra de nacionalidade norueguesa, viaja até Cabul para seguir de perto os costumes e intimidade de uma família afegã no quotidiano - a família de Sultan Kham, o livreiro mais importante e conhecido do seu país. Um homem que, apesar de guerras, invasões e trocas de regimes continua, desde há trinta anos, a dedicar-se, de corpo e alma, a um dos negócios mais antigos do Mundo.

Este livro traz-nos de forma simples, numa escrita quase romanceada, o choque e a realidade sociocultural entre as sociedades ocidentais e os países do Médio Oriente.

Envergando uma “burqa”, Seierstad junta-se ás mulheres da família, seguindo de forma atenta os seus dramas, segredos, amores e desejos. Aproveita também para seguir os homens e acompanhar atentamente a tarefa de importação de livros em cenário de guerra, inspirando o ar seco das montanhas do Afeganistão.

Livro excelente para conhecermos uma realidade cultural oposta à nossa, aproveitando relatos de personagens reais e fidedignos.

Nota: 4

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cosmopolis



O mundo é gerido pelo capitaslismo selvagem dos homens pequenos, pelo liberalismo desrugulado, pela substituição dos valores morais, por valores financeiros e pela revolução tecnológica.

Num contexto de visita presidencial e violentas manifestações na cidade de Nova Iorque, um jovem homem poderoso mas decadente, moribundo e autodestrutivo, domina o mundo e mexe cordelinhos dentro de uma limusine, onde come, bebe, urina, escolhendo o destino dos outros como marionetas, sem saber (ou talvez não) que caminha para a guilhotina, caindo em espiral dentro do holocausto financeiro.

Depois de ler o livro "Cosmopolis" do Don DeLillo, há alguns anos atrás, confesso que fiquei um pouco desapontado com sua passagem ao grande ecrã pela mão do criativo David Cronenberg. Nada de especial é acrescentado. Apenas consigo retirar daqui uma das muitas interpretações dessa obra magnânime. 

Sublinho a prestação genial de Robert Pattinson representando o multi-milionário Eric Packer. Consegue descolar-se perfeitamente do seu papel de Jasper em Twilight (um dos meus maiores receios antes de ver o filme apesar do actor já o ter conseguido fazer em Remember Me, Bel Ami e em Water for Elephants). 

Ressalvo também as pequenas, mas estimulantes, aparições de Paul Giamatti e Juliette Binoche, peões do tabuleiro de xadrez desconcertante criado por Cronenberg.

Apesar de tudo vale a pena espreitar.

Nota: 3 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Palácio da Lua - Paul Auster‏



Sou suspeito quando falo de algum livro de Paul Auster, uma vez que li todos os livros traduzidos para português (vou ter a honra de vos apresentar neste espaço todos eles) e vi também os seus filmes (argumento e realização). Considero-me um fã do estilo e do autor.

Quando comprei este "Palácio da Lua" já levava uma bagagem considerável da obra deste escritor norte-americano que, volta não volta, visita o nosso país.

Esta história é a mais completa e pormenorizada de Auster, contando-nos a epopeia de Marco Stanley Fogg no conhecimento da sua própria história, da história da sua família, as suas origens como homem, desde a existência fugaz e solitária dos tempos de estudante em Columbia.

Mais uma vez, contado na primeira pessoa, com uma personagem quixotesca, à procura do sentido da vida, contra moinhos de vento, atravessando transversalmente o tempo e o espaço. Um viajante perdido que acaba por se encontrar num rio de peripécias e coincidências desaguando num "Palácio da Lua".

Nota: 5

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Para Roma com Amor




Vi finalmente "Para Roma Com Amor" este semana. Não fiquei desiludido. Não é o pior filme do Woody Allen. Longe disso. A fotografia é excelente, a banda sonora é perfeita e o enredo estimulante e envolvente.

Algumas histórias são mais interessantes do que outras, mas o brilhantismo irónico de Woody Allen está presente em todas, seja de forma explicita como na história encabeçada por Roberto Benigni, na qual um homem comum se torna famoso do dia para a noite, ou de forma sublime com Alec Baldwin a reviver e a tentar corrigir erros do passado, ou mesmo o status quo intocável do actores.

De destacar ainda o papel brilhante de Penélope Cruz representando uma voluptuosa prostituta italiana.

Sou suspeito, já que sou um fã incondicional do trabalho deste criador e sim, é verdade que outros filmes já me seduziram mais, mas temos que olhar para cada filme como uma parte ínfima de uma obra inigualável. Cada uma com o seu pormenor, com o seu lugar de destaque, nem que seja uma punch line isolada a meio de um discurso de uma personagem secundária.

Com o cenário romano, os actores escolhidos e o argumento ao dispor este é o filme possível mas, sublinho, tem momentos de brilhantismo, ironia, humor e critica sociocultural.

Comparo este filme a outras obras do realizador como “Everyone says i love you” ou “Celebrity” que, apesar de não terem sido bem recebidos pela critica na altura, fazem parte de uma lógica maior, que ficará para posterioridade.

Nota: 4

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Memórias das Estrelas sem brilho - José Leon Machado‏



Num dia quente de Julho, quando tinha muito em mente, resolvi ir relaxar para a Fnac do Chiado. Nada melhor do um sitio fechado, quente e apinhado de gente para relaxar. Enfim, pelo menos livros não faltam, pensei eu.

Foi naquele momento, enquanto passava o casaco de um braço para o outro, que me deparei com a capa de "Memórias das Estrelas sem brilho". Um soldado português durante a primeira grande guerra desenhado a preto e branco. Os olhos vítreos daquele homem e a sua expressão perdida deixaram-me hipnotizado. Foi amor à primeira vista. Tinha que comprar o livro.

O autor é José Leon Machado e confesso que nunca tinha ouvido falar, mas a verdade é que li o livro numa noite. Fiquei completamente envolvido na sua escrita simples e ingénua e nas memórias e aventuras descritas no romance.

O livro conta-nos a história de um jovem português destacado para a Flandres em 1914, directamente para as trincheiras. As amizades e a camaradagem ímpar em tempos de guerra e a realidade dos veteranos do Corpo Expedicionário Português.

Desde então, nunca mais vi o livro à venda e tenho tentado um pouco por todo lado encontrar mais obras do autor. Infelizmente em vão.

Nota: 4

terça-feira, 2 de outubro de 2012

As Três Vidas - João Tordo



João Tordo transformou-se, com este livro, num dos meus escritores preferidos. Vencedor merecido do prémio Saramago, este jovem autor cria um clima de escrita único com uma teia misteriosa e cativante.

A escolha de uma personagem solitária, isolada, com voz de narrador, é própria deste autor que, tal como Paul Auster, aprofunda desta forma a identidade humana e aproxima os leitores da personagem principal.

Em "As Três Vidas", o narrador (personagem principal) é convidado para fazer um trabalho misterioso para António Millhouse Pascal, exilado numa casa no Alentejo, bebendo da companhia dos seus três netos e de labirínticos e misteriosos momentos.

A aventura começa aqui e, após a visita de estranhas personagens, a descoberta dos segredos do enigmático Millhouse Pascal e a paixão por Camila, a neta mais velha do seu patrão, levam o narrador a percorrer um caminho de descoberta, de destino incerto, do Alentejo a Nova Iorque.

O talento criativo de João Tordo em todo o seu esplendor. O seu melhor romance. Apaixonante.

Nota: 5

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

1Q84 - Haruki Murakami



Ninguém mais, para além de Haruki Murakami, consegue criar uma realidade imaginária ou um mundo alternativo e, ao mesmo tempo, ser tão sincero com o nosso tempo, com as nossas vidas.

Este romance épico de três volumes, bafejado de intenso impulso criativo, toma lugar em Tóquio, no ano de 1984 e explora a vida de duas personagens centrais muito especiais, Aomame e Tengo. Aomame, instrutora de artes marciais num ginásio local e Tengo, professor de matemática e escritor.

Aos poucos e poucos, a realidade vai-se alterando na vida destas duas personagens unidas pelo passado e pelo futuro. Pequenas alterações mas de sublime relevância, vão sendo sentidas, e conduzem Aomame e Tengo a um mundo paralelo no espaço e no tempo, iluminado por duas luas, onde todas as variáveis são questionadas, onde a liberdade se perde e a atmosfera se torna sombria, o ano de 1Q84.

Tudo começa quando, no ano de 1984, um editor de nome Komatsu, propõe a Tengo a revisão de um romance escrito por uma pródiga e estranha adolescente, chamada Fuka-Eri, intitulado "A crisálida de ar".
Ao mesmo tempo, Aomame é convidada por uma velha filantropa para assassinar um lider religioso e, quando viaja de taxi, pela autostrada, escolhe mudar de rumo e tomar um atalho a pé. Este pequeno pormenor vai proporcionar a Aomame uma visita a 1Q84. 

Numa fracção de segundos a realidade muda de forma e as nossas personagens caminham em direcção a um destino há muito deliniado.

Como pano de fundo, o autor debruça-se sobre a polémica das seitas religiosas e o mito dos mundos parelos, das realidades alternativas, a teoria platónica da realidade (essência) versus aparência.

O segundo e o terceiro volume da trilogia passam-se já em 1Q84 e têm como mote o possível encontro adiado de Tengo e Aomame, únidos por um amor capaz de derrubar fronteiras e, mesmo vinte e cinco anos depois do seu último encontro, as vidas de Aomame e Tengo vão-se tornando cada vez mais próximas.

Apenas uma nota negativa: por vários momentos da narrativa, nota-se que os livros foram traduzido do inglês, algo que não acontece nas obras mais antigas do autor.

Uma obra prima (cuidado porque vão ficar viciados) que certamente catapultará Murakami para o tão ansiado Nobel da Literatura. Para os iniciados ou viciados em Murakami, uma obra perfeita, insuperável.

Nota: 5